Loquacidade, louca
cidade
Todo
mundo saia junto sob um par irresistível de tambores também irresistíveis. Lá
ia a Banda de Ipanema sair de frente do restaurante Jangadeiros. As fantasias
criadas e inventadas eram pelos batuqueiros. Uma trovoada bonita. Os
executantes todos machos alguns de fraldas indianas outros com a boquinha
pintada de batom todos de calção de banho tipo short. Bermudas estavam longe de
se tornar um must como são agora. As mulheres algumas usavam jeans com um
chapelão de bandido, outras turbantes indianos ou gregos. A maioria não queria
mais do que obedecer ao ritmo dos tambores, dos músicos e dos cantores.
Violência,
desordem insuportável, intervenção policial, não havia, nunca ninguém precisou
de polícia. A moda era para protestar, reclamar, conjurar, compadecer-se. Clamar
por tempos de maior justiça, boa vontade, compreensão, encontros beijoqueiros
irresistíveis, inesperados que tornassem possíveis reencontros inauditos.
A volta
pelo bairro inteiro era demorada, quem ficava nos balcões, varandas, janelas, é
que estava esperando “a banda passar”. E comentavam essa banda está demorando
demais. Depois, outros diziam será que houve barulho?
De
repente percorriam com força extraordinária, com novos tamborins, pandeiros,
tambores. E os músicos mais entusiasmados eram os músicos mais conhecidos e
mais antigos. Ninguém fora detido, ou retido, ou rasgado, ou machucado. Uma
pequena parcela anunciava, paramos por exaustão!
Aqui dou um respiro fundo: ”Onde estão meus generais?”
Albino
desaparecido, Paulinho Góes, não encontrável, e os abraços? Os beijos das
despedidas? Mas que é que eu faço, Deus meu? Recordando meu tempo desaparecido?
Procura insana “a La Recherche” dos tempos perdidos? Isso é ser cultural minha
gente? Onde foi mesmo que enfiei minhas fantasias?
Hoje no
Jangadeiros, um almoço tranquilo, descompromissado. Vejo uma mesa grande,
apenas de senhoras, bem vestidas, bem penteadas e calçadas, dão vida ao amplo
espaço do restaurante. Revitalizadas, separam-se, despedem-se e desaparecem.
Nada tenho mais a fazer no recinto reatualizado agora, num feitio
distintíssimo.
Minha
bengala e eu revitalizamo-nos com o clima atual, aproveitarmos, expressarmos,
formularmos as lembranças numa nova crônica.
Ei-la!
Quase pronta tímida e útil, fazendo brotar flores de fertilidade, de calor
humano sensível, se bem que desajeitado por esperança juvenil de nos
encontramos certos e na rua, na alma da boemia carioca. Dou um carnavalesco
Adeus às saudades,tantas desajeitadas disfarçadas em elegância.
Mas os
moços organizaram a banda jovem, mas ali eu não persistiria no mesmo tom, nem
enfeitaria a minha idade. E agora, despedindo-me com muita seriedade e súbita
saudade. Salvou-me por favor, minha loquacidade na minha louca cidade.